Distorções cognitivas e a família disfuncional

Nem todas as famílias enfrentam questões envolvendo grandes conflitos. Algumas famílias não experimentam um conflito abertamente. As crianças podem aceitar os valores de seus pais, e ainda, permanecer individuados e ativos. Então, é importante evitar o rótulo de que todos os adolescentes são confrontacionais em sua busca da individuação.

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Distorções cognitivas têm um grande impacto nos relacionamentos entre pais e adolescentes de muitas maneiras. Essas distorções podem criar e reforçar posturas rígidas que aumentam o comportamento mal adaptado, a raiva gerada por atribuições negativas, ou pensamento ilógico, que geralmente terminam em hostilidade entre os membros da família. Há oito temas que descrevem este fenômeno:

1. Perfeccionismo - os pais esperam que seus filhos se comportem sem falha nenhuma. Ao mesmo tempo, os adolescentes vêem os pais como tendo sempre a resposta correta.

2. Ruinação - a crença de que se o adolescente desenvolve um comportamento mal adaptados, sempre haverá conseqüências catastróficas; não apenas a vida dos adolescentes será arruinada, mas também as vidas de outros membros da família. Da perspectiva do adolescente, restrições impostas pelos pais irão arruinar a sua vida.

3. Justiça - a crença pelo adolescente que seus pais devem ser tratá-lo justamente e que a vida deve ser justa para todo mundo.

4. Amor e a aprovação - baseia-se no conceito que ninguém deveria ter segredos e que todo mundo deveria sempre aprovar o comportamento dos outros. Se você falha em confiar, está em falta com o amor ao outro ser humano.

5. Obediência - a crença dos pais que não importa o que eles digam ou façam, os adolescentes devem aceitar tudo sem questionamentos.

6. Auto acusação - um adolescente ou seus pais se recusam a aceitar censura por seus próprios erros, em vez disso acreditam que se o outro tivesse uma informação melhor ou tivesse agido de forma diferente, o erro não teria acontecido.

7. Intento malicioso - a visão de que se uma pessoa se comporta mal, isso é feito deliberadamente para ferir outros membros da família. A crítica e o feed back construtivo são vistos como agressivos.

8. Autonomia - a crença dos adolescentes que eles deveriam ser capazes de fazer o que desejarem sem qualquer restrição a seu comportamento

Os conselheiros devem reconhecer que essas atitudes servem a um propósito em algumas famílias não saudáveis. Elas podem criar um senso de equilíbrio e ajudam a família a evitar intimidade. Essas distorções podem mesmo ser vistas como úteis para melhorar uma qualidade particularmente negativa.

Conclusões

Durante a adolescência de seus filhos, a tomada de decisão pelos pais torna-se mesmo mais difícil devido à complexidade de questões como disciplinas, freqüência escolar, intimidade. O adolescente solicita constantemente mudanças nas regras, e nesse processo os pais podem discordar um dos outros. Adolescentes são hábeis em reconhecer esta ambivalência e podem jogar um pai contra o outro. Desacordo entre os pais não é incomum, mas quando eles são incapazes de resolver um conflito, o desacordo pode levar a um comportamento mal adaptado pelo adolescente.

Muitos dos problemas vistos em famílias disfuncionais com adolescentes também ocorrem famílias normais; no entanto, o índice de disfunção é muito maior em famílias que têm métodos mal adaptados de resolução de problemas. De fato, em muitas famílias disfuncionais, questões relacionadas ao uso de drogas pelo adolescente são uma continuação das principais dificuldades dos pais. No entanto, um alvo implícito de toda família, mesmo a mais disfuncional delas, é o crescimento e preservação de seus membros.

Tipicamente, a emergência de um adolescente no ciclo de vida da família resulta em um período de confusão. Os parâmetros da família passam por uma avaliação contínua à medida que os adolescentes passam pelo período de mudanças fisiológica, cognitiva, emocional ou comportamental. Esse período de mudança necessita de uma serie de ajustamentos psicossociais dentro da família, e o maior deles é formado pela tarefa do desenvolvimento do adolescente de tornar-se independente de seus pais.

A maneira como a família reage ao conflito durante este período de ajustamento determina se um processo normal da adolescência será resolvido por si ,ou resultarão em uma patologia e em um adolescente em risco.

O que é a Adicção?

Adicção é a propensão a comportamentos exagerados e sem nenhum controle, motivados por pensamentos obsessivos e atitudes compulsivas.

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Podemos ser dependentes de álcool e outras drogas, de jogo, de sexo real ou pela internet, de compras, de comida, de relacionamentos, de trabalho, de exercícios físicos e de muitos outros objetos. Esses objetos de apego, então, se tornam obsessões e compulsões, que podem chegar a regrar nossas vidas.

A adicção rouba-nos a liberdade de dizer não ao impulso de praticar o ato compulsivo, impedindo-nos de atender corretamente nossos desejos, mesmo que tenhamos plena consciência de que a prática desse ato é nociva e vai nos causar muito sofrimento, culpa e vergonha. Todos nós enfrentamos uma condição estranha e paradoxal. O apóstolo Paulo escreveu a esse respeito:

“... tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim.” (Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 7, versículos 18-20)

A palavra pecado significa “errar o alvo”. É um deslocamento de nossa energia emocional e física levando-nos a um paradoxo extraordinário: somos responsáveis pela impossibilidade de fazer diferente. Querendo resolver nossa culpa, reprimimos nosso desejo, tentando mantê-lo fora de nossa consciência. Deslocamos nossa atenção para coisas que achamos mais seguras. Mas um desejo reprimido não vai embora tão facilmente. Ele permanece na periferia de nossa consciência, solicitando nossa atenção, até que consegue que o atendamos. Outro apóstolo, Tiago, descreveu esse movimento interior da seguinte forma:

“Cada um, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado e o pecado, após ter se consumado, gera a morte”. (Carta de Tiago, Capítulo 1, versículos 13-15)

Nossas adicções – ou pecados - são nossas piores inimigas. Escravizam-nos com cadeias que criamos e que, paradoxalmente, estão virtualmente além do nosso controle. Saber dos processos psicológicos da adicção não garante livramento. É necessária também a percepção de sua dimensão espiritual, que só pode ser tratada espiritualmente. O apego – que é o conceito psicológico – é o pecado – um conceito teológico. Não são antagônicos, mas complementares.

"Celebrando a Recuperação" nos ajudará a experimentar a Graça de Deus. Ela é mais poderosa que a adicção e qualquer opressão à liberdade do coração humano. Junte-se a nós e celebremos a liberdade para a qual Jesus Cristo nos chamou.

Intervenção: como levar um dependente químico a pedir ajuda

A principal dificuldade em convencer um dependente químico de que ele precisa de tratamento para a dependência química e outras adicções é que freqüentemente um dependente acredita que pode usar com segurança ou continuar com seu comportamento sem problema. Uma pessoa nunca abre mão dessa idéia, e como resultado, existe a morte física, algumas mortes mentais e algumas espirituais.

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Para muitos, uma intervenção é a única maneira de salvar a sua vida. Intervenções por conta do uso de química (álcool e outras drogas e remédios prescritos) na qual as famílias e outras pessoas (empregadores, associados, amigos, etc.) participam pode ajudar a quebrar a negação quanto à adicção.

O dependente sofre muito com sua doença. Suas emoções vão a extremos. Seus sentimentos ou são poderosos e insuportáveis, ou são ausentes e confusos. A adicção demonstra uma inabilidade em controlar a sua vida. Essas pessoas oscilam entre perder o controle do seu comportamento compulsivo, e freqüentemente no mesmo momento, eles praticam múltiplas e variadas tentativas de conseguir e manter o controle. Drogas (incluindo o álcool) são irresistíveis por que inicialmente funcionam; mas posteriormente, devido à tolerância física e à progressiva diminuição das capacidades psicológicas, as tentativas de auto correção falham. O suicídio freqüentemente torna-se uma alternativa fatal.

Os adictos só procuram ajuda não porque eles viram a luz, mas por que sentiram o calor. Algumas vezes vem junto uma crise que muda o adicto. Então se torna urgente a reação para aceitar ajuda, antes que continue com as drogas. Esta reação é a intervenção. A maioria das intervenções é feita quando acontece um conjunto de tragédia pessoal, tanto para o alcoólatra como para sua família. Os exemplos incluem a ruína financeira, divórcio, prisão, abuso ou negligência dos filhos, cirrose, um surto psicótico e finalmente a morte. Quando se trata de saúde mental, normalmente alguém se torna perigoso para consigo mesmo e para outros.

Por que muitos empregadores, familiares, e profissionais não têm consciência de sua colusão com a pessoa dependente? Por que a resistência entre os familiares e muitos profissionais que conhecem mais sobre adicções? Por que não ajudar a subir o poço do dependente químico?

Atualmente o tratamento de dependência química tem sido mais eficiente, de tal forma que pessoas que participam de um tratamento correto têm grande chance de parar com abuso de álcool e outras drogas. Pode continuar mantendo seu emprego, melhorar o seu funcionamento social e interpessoal, melhorar seu estado físico de saúde.

Uma boa intervenção deve estar baseada numa abordagem psicoterapêutica saudável, informações educacionais e princípios espirituais que formam um conjunto de suporte para as tomadas de decisão necessárias para o início da recuperação. Demandam um trabalho sistemático com a família e associados, porque as intervenções não são sempre aceitas emocionalmente e nem as pessoas estão prontas para o trabalho. No entanto uma condução adequada da intervenção pode abrir caminho para uma mudança radical no sistema familiar.

Na verdade, as famílias e mesmo associados com pouco ou nenhum treinamento em intervenções, costumam fazê-las com resultado negativo. Isto porque não conseguem perceber que eles estão em colusão com o dependente químico.

Intervenções bem conduzidas são uma ferramenta poderosa no tratamento da dependência química. Elas geralmente tem algumas características em comum:

Incluem um interventor profissional:

Profissionais sabem o que funciona, estão habituados com as últimas técnicas e podem dar aos familiares assustados e ansiosos uma clara compreensão do que esperar antes, durante e depois da intervenção. Esta perspectiva pode ser valiosa quando emoções fortes, muitas reprimidas por anos a fio, vêm à superfície. O intervencionista é capaz de ajudar as famílias a ouvir o outro de uma forma muito mais efetiva do que eles conseguiam anteriormente, o que é crucial nessa situação altamente emocional

Elas são preparadas cuidadosamente

Uma cuidadosa preparação por antecipação é crítica. Ela inclui entrevistas com os membros familiares com o intervencionista para determinar se o problema realmente existe e quais os membros da família que querem participar. A preparação também envolve escolha de um tempo do dia quando o adicto estará mais receptivo, o desenvolvimento de listas escritas dos eventos específicos que afetaram cada membro da família e de um ensaio para praticar o está envolvido no confronto do alcoólatra ou adicto diretamente. Finalmente, a equipe prepara por antecipação a admissão em um centro de tratamento, tomando cuidado de todos os detalhes de internação e estabelecendo a ocasião da intervenção para quando a vaga estiver disponível, se for o caso.

Ela inclui fronteiras não negociáveis

Alcoólatras e adictos são altamente manipuladores e quase sempre tentando confundir a questão sendo discutida, negam a realidade, enfurece-se quando sua adicção é ameaçada, tendo a raiva, ameaças e intimidação como último recurso. Isso significa que os membros familiares e amigos devem estar convictos a respeito de seus limites e das conseqüências reais que acontecerão se o abuso do álcool e drogas continuar. Algumas vezes significa a separação da esposa e filhos, a perda do trabalho. Seja o que for, isso deve ser claramente definido e mais que apenas uma ameaça em ponto morto. Nada faz fracassar mais rápido uma intervenção quanto um cônjuge ou empregador que dá ao adicto mais uma chance.

Elas são uma surpresa

É extremamente importante que ninguém "vaze" a informação ao dependente químico que uma intervenção está sendo planejada. Isto acontece algumas vezes quando um membro da família sente culpa por alguma coisa que esteja sendo feito por trás das costas do seu familiar. É preciso cuidado extremo, e freqüentemente feita como último recurso por pessoas interessadas no bem estar do alcoólatra. Durante a intervenção, o dependente químico costuma reclamar que o enganaram, depois ele começa a perceber que sendo o último a saber foi provavelmente o melhor. A surpresa é necessária para que o dependente químico não tenha a oportunidade de planejar uma defesa.

Certa esposa preparou duas malas antes da intervenção: uma para o seu marido levar ao centro de tratamento, e uma para ela. Quando ele se recusou a ir para a internação viu com total descrença, sua esposa pegar a sua mala e sair pela porta afora. Ele hesitou, depois correu atrás dela quando viu que ela falava sério. Foi a tratamento no mesmo dia

Elas são feitas por pessoas a quem o dependente químico respeita

As pessoas que farão a intervenção devem ser aquelas que o adicto respeita. Isso aumenta a chance de que ele consiga ouvir a informação difícil a respeito dos danos causados pela dependência química.
Elas são conduzidas por pessoas preparadas para a retaliação emocional
As semanas seguintes a uma intervenção podem ser muitos difíceis para todo mundo envolvido. Esta é a razão por que o abuso de álcool e drogas freqüentemente continua por muito tempo. Os familiares e amigos que fazem a intervenção devem esperar um período de retraimento, raiva, e devem estar prontos para pedir apoio extra para as pessoas à sua volta.

Elas são compassivas

A intervenção é feita por pessoas que amam o dependente o suficiente para o confrontarem honestamente a respeito de um problema muito sério. Enquanto altos níveis de medo, raiva, frustração e ressentimentos são parte da família de um alcoólatra ou dependente químico (e que freqüentemente explode durante a intervenção) a intervenção é motivada pela preocupação com o dependente. Um intervencionista profissional pode ajudar a manter o grupo focado nesse fato durante cada passo do processo.

Pode haver algum medo de que haja algum tipo de violência durante o processo de intervenção - especialmente verdade seu pessoas costuma carregar armas (como muitos traficantes). Isso pode ser evitado escolhendo-se pessoas a quem o adicto respeite e se preocupam com ele. Muitas vezes o interventor é ameaçado, mas isso costuma não passar de pressão. É evidente que isso exige um senso crítico da parte do intervencionista e dos outros envolvidos determinando a segurança necessária.

É importante perceber que a intervenção sempre dá resultado até um ponto, mesmo quando o dependente ou o alcoólico não aceita o tratamento, a intervenção sempre dá resultado até certo ponto. Os abusadores não conseguem negar por muito tempo que eles têm ferido pessoas de seu relacionamento ou dizer que eles não sabiam que tinham o problema. Algumas vezes o adicto recusa o tratamento e o abandonará- geralmente contando que alguém mais que suporte para o seu comportamento adictivo imaginando que o restante da família continuará com suas próprias vidas. Seja o que acontecer, uma intervenção rompe o silêncio. Esperançosamente, este é o primeiro passo na recuperação da família.

Psicologia, teologia e espiritualidade.

Alô
Sou o Carlos Barcelos. Por conta de minha atividade profissional -sou psicólogo - desenvolvi um interesse especial em compulsões: dependência química, dependência de relacionamentos,jogo compulsivo, sexo virtual, sexo compulsivo real, compras, dificuldades financeiras, etc.

Aprendi com meus clientes sobre seus sofrimentos e, oferecendo-lhes a ajuda que podia, fui aprendendo como as compulsões funcionam e como, gradativamente, foram se livrando dessas cadeias.

Espero partilhar algumas dessas experiências com vocês e com todos que se interessarem.

Abraços

Barcelos

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Psicologia, teologia e espiritualidade.

Religião e valores religiosos tornaram-se um tópico freqüente de discussão para muitos conselheiros nos últimos anos. Muitos têm pensado sobre a confusão de seus clientes. Mas quando tratamos dos valores religiosos em nossos consultórios, nossos clientes não estão sozinhos. Muitos conselheiros também estão confusos.

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Psicologia, teologia e espiritualidade.

Religião e valores religiosos tornaram-se um tópico freqüente de discussão para muitos conselheiros nos últimos anos. Muitos têm pensado sobre a confusão de seus clientes. Mas quando tratamos dos valores religiosos em nossos consultórios, nossos clientes não estão sozinhos. Muitos conselheiros também estão confusos.

Se aceitarmos qualquer crença como válida, então qualquer crença tem mérito? Se toda verdade é construída pelos valores e crenças de uma pessoa, então a verdade também pode ser desconstruida, de modo que nada é a verdade última?

Há conselheiros bíblicos que rejeitam toda e qualquer teoria psicológica em favor das Escrituras como fonte de todo conhecimento. Mas a dúvida não desaparece: e se a Psicologia e Religião puderem cooperar uma com a outra através de técnicas psicológicas para resolver alguns problemas? E se, por exemplo, uma síndrome de pânico possa ser tratada com alguma dessas técnicas? E quanto a procedimentos psicológicos testados e aprovados revelem-se efetivos para auxílio ao bem estar? Os conselheiros bíblicos poderão continuar a dizer que psicoterapia e aconselhamento não funcionarão juntos quando há grandes evidências do contrário?

Há a possibilidade de integração entre o conhecimento teológico cristão e as técnicas psicológicas para a ajuda ao crescimento tanto psicológico como espiritual. É possível integrar a verdade de Cristo como revelada nas Escrituras e deliberadamente permitir que essas crenças saturem nossos métodos de aconselhamento.

O consultório é onde a integração das crenças cristãs e as técnicas de aconselhamento se tornam mais práticas, e é também onde nos sentimos mais bombardeados com perguntas sem respostas imediatas:

  • Quando devemos orar com os clientes?
  • O perdão é razoável para um sobrevivente de abuso sexual?
  • Devemos confrontar o pecado ou esperar para que nosso cliente o reconheça por si mesmo?
  • A reconciliação é sempre um alvo razoável?
  • Há ocasiões em que o divórcio é aceitável?
  • Temos evidências de que essa abordagem de aconselhamento bíblico é efetiva?
  • As disciplinas espirituais são uma parte necessária da restauração emocional?
  • Uma abordagem teórica de aconselhamento é mais compatível com o cristianismo que outra?
  • A memória das escrituras pode contribuir para a negação e defesas não saudáveis?
  • Uma auto-afirmação e auto-estima positivas são contrárias à Escritura?

Mesmo os princípios bíblicos, que consideramos verdadeiros e fontes de autoridade, algumas vezes parecem difíceis de aplicar no consultório.

Não é possível ter todas as respostas, mas talvez possamos nos unir em torno de certas questões-chave e certas perspectivas de modo que nossas intervenções se tornem crescentemente relevantes e efetivas.

Enquanto terapeutas e conselheiros cristãos estamos sempre diante de uma pergunta quando atendemos nossos clientes: qual das abordagens podemos usar para aproximá-los de Deus?

Desafio 1: indo de duas áreas de competência para três.

Para terapeutas e conselheiros cristãos é de suma importância estar atuando baseados em duas áreas de competência: a Psicologia e a Teologia. Psicólogos sem treinamento teológico frequentemente minimizam a importância da doutrina, psicologizam crenças cristãs e passam por cima do contexto sociológico e histórico da Psicologia atual. A Teologia ortodoxa cristã mantém os conselheiros em uma posição facilmente abalada por novas teorias, fábulas e afirmações sensacionalistas. Teólogos sem treinamento psicológico freqüentemente interpretam mal as nuances da ciência psicológica e as complexidades das aplicações clínicas.

A Igreja atual precisa de teólogos e psicólogos que atuem integrando as duas disciplinas, mesmo que em uma ou outra seu treinamento seja informal.

Essa afirmação nos leva para um terceiro aspecto de competência. Se vamos trabalhar integradamente com a Psicologia e a Teologia devemos entender a espiritualidade e o processo de formação espiritual.

Conselheiros protestantes contemporâneos têm deixado passar desapercebidas as disciplinas espirituais de longa data praticadas na Igreja Católica e particularmente na vida monástica. E elas são de grande importância na restauração emocional.

Quais são as técnicas de formação espiritual? Como alguém aprende a paixão e a devoção espiritual? Essas questões são desconsideradas, deixando os conselheiros, mesmo os mais bem treinados, sem outros recursos importantes. Assim como um tripé com uma perna faltante é inútil, um conselheiro cristão ao qual falta a compreensão da espiritualidade ficará em desvantagem ao tratar de questões espirituais em seu consultório.

E SE ISSO ACONTECESSE?

Seu cliente, José, põe sua cabeça entre as ngolfmãos, suspira profundamente e começa a descrever a escuridão espiritual que sente. Um cristão por muitos anos, José vê sua vida espiritual como uma peregrinação. Muitas vezes sentiu-se engolfado pela graciosa e gentil presença de Deus. Em outras ocasiões ele se sentiu distante de Deus. Ele entende o que São João da Cruz chamou de “a noite escura da alma”. Mas desta vez, a noite parece mais escura e mais profunda que antes. Ele se sente sozinho, triste, confuso e vazio. Ele vai até você, um conselheiro cristão, para ajuda.

Esta é uma questão de múltipla escolha. O que você fará?

1. Diagnostica José com uma depressão, orienta para que uma medicação antidepressiva seja prescrita, e começa uma terapia cognitiva para depressão.

2. Encoraja José relembrando-o de que seus sentimentos não determinam sua fé. Mesmo que Deus pareça distante, nada pode separá-lo do amor de Deus revelado em Cristo (Rm 8:35-39).

3. Explora os anseios espirituais profundos de José, e permite que ele chore por seus sentimentos de distância de Deus.

4. Considera todas as possibilidades acima.

A primeira opção reflete a abordagem que pode ser seguida por muitos psicólogos que não têm treinamento ou experiência religiosa. A segunda escolha pode ser a de conselheiros com compreensão teológica. A terceira requer uma compreensão da formação espiritual. Aqueles que anseiam por Deus e tomam a vida espiritual seriamente sempre experimentam períodos de escuridão espiritual e solidão; é parte da busca espiritual do cristão. Somente os conselheiros conscientes dos sintomas psicológicos, princípios teológicos e formação espiritual estarão habilitados para discernir o melhor tratamento para José.

A competência espiritual não se consegue como a da Psicologia e Teologia, nem pode apresentar-se como credencial acadêmica. Ela consiste daquele conjunto de atividades na qual uma pessoa interage cooperativamente com Deus e com a ordem espiritual derivando da personalidade e da ação de Deus. [1]

O treinamento espiritual é experiencial e freqüentemente privado. Raramente é encontrado em escolas, mas sim em horas de recolhimento em oração e reflexão devocional, em adoração comunitária, em quietas disciplinas de jejum e solitude.

Há uma outra razão pela qual a competência espiritual não pode ser apresentada em um currículo: aqueles que têm a mais rica vida espiritual reconhecem que a competência espiritual é, em um sentido, um oximoro. Podemos nos tornar mais ou menos competentes nas disciplinas espirituais, treinando-nos a experimentar Deus mais plenamente, mas nunca poderemos ser espiritualmente competentes. A doutrina cristã ensina que somos espiritualmente incompetentes, precisados de um Redentor.

A vida espiritual nos conduz para longe das ilusões de competência e nos força a confrontar nossa absoluta impotência e dependência da Graça de Deus. Quando reconhecemos nossa frraqueza, então a força de Cristo podee operar através de nós (2 Co 12:10).

Se nos afastarmos ca Teologia Cristã os encontraremos em um estranho mundo de espiritualismo. A espiritualidade cristã não começa meramente em uma busca de sentido. Ela começa em nossa compreensão e que alguma coisa está profundamente errada conosco – uma percepção que pode levar a uma dedicação renovada aos valores do evangelho.

Se a vida espiritual de um conselheiro cristão é importante, então a distinção entre a vida profissional e a vida pessoal torna-se difícil de definir porque a piedade cristã do conselheiro e suas práticas pessoais afetam o processo e o resultado do aconselhamento.

Desafio 2: distinções pessoais e profissionais obscuras

Enquanto códigos de ética profissionais fazem uma distinção entre a vida profissional e pessoal do conselheiro, essa distinção não é clara para o conselheiro cristão sensível. Orar por um cliente é uma questão pessoal ou profissional? Se um conselheiro treina-se através da prática das disciplinas espirituais para permanecer calmo diante de circunstâncias provocantes, é uma questão profissional ou pessoal aplicar essas habilidades com clientes difíceis?

O tipo de relacionamento terapêutico que produz restauração é o que surge da vida pessoal interior. Nesse sentido, aconselhamento é tanto profissional quanto pessoal.

Um conselheiro cristão não apenas é um despenseiro de tecnologia restauradora para que seu cliente se sinta melhor, mas idealmente é também um agente restaurador, cuja vida espiritual é espargida através de interações com todas as pessoas, incluindo os seus clientes.

Sabe-se hoje que um forte relacionamento terapêutico é um dos melhores indicadores de sucesso em psicoterapia. Pessoas que procuram ajuda não buscam um conjunto específico de técnicas, mas um relacionamento com alguém que tenha valores que respeitam. Elas procuram esse relacionamento porque estão feridas, empurradas para angústias pelas conseqüências naturais de viver em um mundo caído. Em meio a um relacionamento de aconselhamento cristão elas freqüentemente se movem das fraturas e tristezas para a esperança e restauração.

O vínculo terapêutico é pessoal ou profissional? É ambos. Um relacionamento de terapia é profissional em muitas formas:

  • Ocorre em um tempo e local específicos
  • Um pagamento é combinado
  • O cliente revela muito mais que o conselheiro
  • O relacionamento termina em um tempo especificado ou decidido por ambos

Um relacionamento de aconselhamento cristão é também pessoal:

  • tanto o conselheiro quanto o cliente investem energia e emoção no relacionamento.
  • Ambos usam palavras que emergem de suas experiências pessoais e visão de mundo.
  • Ambos oram fora da sessão de aconselhamento para que o relacionamento possa ajudar o cliente.
  • E ambos são irmãos e irmãs em Cristo.

Há um crescente aumento no interesse pelos valores na psicoterapia. É um fato aceito atualmente que a psicoterapia é um relacionamento permeado por valores inextricavelmente entretecidos no processo de aconselhamento. Um comportamento profissional é importante, mas um processo pleno de valores deve basear-se em qualidades e perspectivas pessoais.

Um conselheiro cristão melhor preparado é:

  • altamente treinado na teoria e técnicas de aconselhamento.
  • Conhecedor da Teologia.
  • Reflete o caráter cristão dentro e fora do seu consultório
  • Tal caráter formado por anos de fiel treinamento nas disciplinas espirituais (oração, estudo das Escrituras, solitude, jejum, adoração comunitária, etc.).

A vida pessoal do conselheiro é um ingrediente essencial para um trabalho profissional produtivo.

Desafio 3: Definições expandidas de treinamento

O treinamento de um conselheiro cristão deveria incluir:

  • Várias formas de meditação e oração
  • Confissão
  • Adoração
  • Perdão
  • Jejum
  • Simplicidade de vida.

O aconselhamento cristão pode legitimamente fazer maior uso de técnicas explicitamente cristãs que brotam da tradição cristã.

Três fatores indicam um bom conselheiro cristão:

  • o bem estar espiritual do conselheiro
  • a prática de devoções pessoais
  • a vida pessoal do conselheiro.

Tanto quanto o treinamento profissional é importante para um conselheiro competente, seu treinamento pessoal e espiritual também o é.

A substância da sensibilidade espiritual do aconselhamento tem raízes mais profundas que a técnica: o cuidado, a objetividade disciplinada, a confiabilidade, a empatia, a sabedoria e as percepções devem vir do interior.

As disciplinas espirituais providenciam um modo de mudanças internas profundas que a mera força de vontade nunca pode produzir. Terapeutas cristãos que são sensíveis à vida espiritual reconhecem a importância do treinamento pessoal no desenvolvimento de hábitos de santidade.

As disciplinas espirituais não são espirituais em si mesmas, mas oferecem oportunidades para a experiência do encontro com Deus. São veículos da espiritualidade que nos traz face a face com a Graça de Deus.

Desafio 4: Confrontando as visões dominantes de saúde mental.

Aconselhamento espiritual sensível não é apenas uma questão de implementar um conjunto de técnicas no consultório. É preciso tomar cuidado com a adaptação de teorias humanistas e ateístas subjacentes às técnicas psicoterapeuticas. Podemos estar correndo o risco de dobrar pressuposições cristãs para conformá-las a técnicas existentes, mas em algum ponto nosso sistema de crenças se romperá, e somos deixados apenas com detritos ateístas saturados por definições ateístas de saúde mental.

O aconselhamento cristão requer que avaliemos cuidadosamente os alvos da terapia e desafiemos as visões de restauração que nos envolvem nas profissões de saúde mental.

Muito da Psicologia atual sugere que o cliente procure suas próprias necessidades, abra mãos de idéias de altruísmo ou perdão, saia de relacionamentos não satisfatórios. Sua mensagem diz que a felicidade vem por evitar o desconforto, sacrifício e dor. Ainda que essas mensagens não estejam todas erradas, elas não estão todas certas. Elas costumam estar baseadas em uma ética hedonista e individualista que não é compatível com a espiritualidade cristã.

Podemos dobrar assunções cristãs para amoldá-las a técnicas existentes, mas em algum ponto nosso sistema de crenças se romperá e nós ficamos apenas com detritos teístas saturados de definições de saúde mental ateístas. Trabalhar com conceitos cristãos no consultório implica uma avaliação cuidadosa dos alvos da terapia e de desafiar as visões de restauração que nos envolvem nas profissões de saúde mental.

Somos bombardeados todos os dias com mensagens que nos dizem para cuidarmos de nós mesmos e sentirmos-nos bem conosco mesmos de forma a podermos ser felizes. Talvez até tenhamos sugerido isso a nossos clientes. Afirmações como essas: “cuide de si mesmo, pois ninguém mais o fará”; “vá em frente, você o merece”; “ninguém pode dizer-lhe o que é certo ou errado para você”; “você é uma boa pessoa. Você precisa acreditar em si mesmo”; “afirme seus direitos”; “expresse seus pensamentos”, são ditas e ouvidas a todo tempo. Não estão totalmente erradas. Pessoas são realmente feridas por outras, e as cicatrizes podem ser devastadoras.

Apesar de que as mensagens contemporâneas não serem totalmente erradas, elas não são totalmente certas também. A psicologia contemporânea que se popularizou prega que busquemos a satisfação de nossas próprias necessidades, abramos mão de idéias tolas de altruísmo e perdão, e saiamos de relacionamentos que não são satisfatórios. Sua mensagem é clara: a felicidade é alcançada pela evitação do desconforto, do sacrifício, da dor. Albert Ellis escreveu: “o individuo emocionalmente saudável deve ser primariamente verdadeiro a si mesmo e não sacrificar-se masoquisticamente por outros”. Essa afirmação deve ser criticada à luz das Escrituras, onde somos instruídos a prestar atenção aos interesses de outros [2] e preferir uns aos outros em honra [3]. Podemos cair no engano do hedonismo e de uma independência rasa como alvo de nosso aconselhamento e com isso negarmos a vida espiritual e o papel do quebrantamento na restauração.

Como conselheiros cristãos não podemos deixar de lado a verdade bíblica que nos aponta como participantes no pecado e não como vítimas inocentes, que a doença é uma parte de nossa natureza [4], e que o reconhecimento de nossa condição espiritual é um pré-requisito à restauração. Devemos reconhecer nossa impotência em conquistar nosso egoísmo e a necessidade de render o governo de nossas vidas a Jesus Cristo. Nosso coração pecaminoso se revela no que fazemos e no que falhamos em fazer. Nós somos feridos não somente porque somos vítimas, mas também porque temos corações de rebelião e de endurecida independência.

O Evangelho oferece esperança para pessoas quebradas, mas só depois que reconhecer sua impotência em lidar com isso. Do ponto de vista cristão, não somos aptos para reparar os danos que outros nos causaram. E as tentativas de correção resultaram em mais danos a nós mesmos e a outros. São respostas deslocadas que, por sinal, é a própria definição de pecado.

A Boa Nova do Evangelho é que Deus nos tira do nosso estado de impotência para um relacionamento amistoso com Ele. A esperança baseia-se no trabalho de Cristo.

O conselheiro cristão deve ajudar seu cliente a refletir no papel do quebrantamento na restauração e a reconhecer que a inadequação e a necessidade são pré-requisitos à restauração e esperança. O aconselhamento que respeita o quebrantamento como parte da restauração é um reflexo da redenção. 0 aconselhamento cristão atua no meio da experiência penosa como um relacionamento restaurador no qual a aceitação, a esperança e o significado profundo da dor entram na vida ferida. Nesse sentido, o aconselhamento cristão imita o Evangelho: pessoas são quebradas e pessoas quebradas são restauradas no contexto de um relacionamento restaurador.

EM DIREÇÃO À SAÚDE PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL

O aconselhamento cristão é mais complexo que outras formas de aconselhamento porque nossos alvos são multifacetados. Um comportamentalista pode focar na redução de sintomas e um psicanalista no fortalecimento do ego. Mas um conselheiro cristão estará preocupado tanto com o crescimento espiritual como com a saúde mental. No entanto, o treinamento básico do conselheiro cristão costuma ser baseado apenas na saúde mental partindo-se do pressuposto de que a saúde mental pode estar separada da vida espiritual, uma assunção que a maioria dos conselheiros cristãos não partilha.

Um guia para o crescimento espiritual deverá:

  • levar em conta a verdade escriturística e ser completamente relevante aos vários problemas de saúde mental.

  • prático o suficiente para ser utilizado no consultório por qualquer conselheiro cristão, e não apenas por filósofos e teólogos.

  • idealmente, ajustar-se à base teórica que cada conselheiro cristão adotar. Não é uma substituição de uma base teórica que pode ter sido desenvolvida com muito esforço, mas uma busca de uma compreensão mais profunda da vida espiritual e da sabedoria espiritual para ver-nos a nós mesmos, nossos clientes e nosso relacionamento de aconselhamento com mais acurácia.



UM PADRÃO DE RESTAURAÇÃO

Há um padrão perceptível da motivação à restauração em toda narrativa humana. Pode ser demonstrado de forma simples:



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[1] “The Spirit of the Disciplines”, Dallas Willard.

[2] “Cada um cuide, não somente de seus interesses, mas também dos interesses dos outros”(Fl 2:4)

[3] “Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios” (Rm 12:10)

[4] “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável.” (Je 17:9. Ver o contexto desde o versículo 5)

 
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